domingo, 20 de outubro de 2013

DIA 7 - CHICAGO - MILWAUKEE - CHICAGO - 320 KM RODADOS

É o fim da rosca... só porque o negócio tá acabando vira uma esculhambação e o pos fica atrasado em dois dias. Mas vamos lá, antes tarde do que nunca (já ouvi isso antes... hehe).

O último dia da viagem foi dedicado à Harley-Davidson. Partimos de Chicago rumo à Milwaukee num trajeto de quase 100 milhas para visitar o Museu da Harley. O museu conta a história da marca, desde seu início no início do século passado, a evolução dos motores e das motocicletas, o período da guerra onde a fábrica praticamente só produziu motocicletas com fins militares, os dias difíceis, a venda do controle para a AMF, o retorno para a família fundadora e funcionários e a retomada dos dias de prosperidade que perdura até hoje. 

Como postei no facebook, para que curte motocicletas e em especial as HDs, é como visitar meca. Me lembro desde os dias mais remotos a sensação inexplicável que senti quando vi de perto pela primeira vez uma Harley Davidson. A mística da marca, a simbologia em torno do que ela representa, os cromados e todo o contexto de aventura e liberdade em torno do estilo de vida associado à motocicleta. O tempo passou, a paixão pelas motos evoluiu, e aprendi que tem jeito muito mais eficiente e confortável de cruzar longas distâncias em duas rodas (montado em uma big trail com motor boxer, por exemplo). Mas a paixão pela marca nunca vai desaparecer e é evidente que até pode ter forma mais eficiente e confortável de rodar sobre duas rodas, mas jamais haverá maneira mais estilosa e mítica. 

O museu é grande e dá pra ficar o dia inteiro lá dentro. Cada modelo, desde a fundação, é apresentado e a história é contada de forma evolutiva, passando pela evolução dos motores, pelos roncos, pelas razões pelas quais o motor tem dois cilindros a 45 graus, e assim por diante. Uma experiência obrigatória pra quem ama motocicletas.

Voltamos a Chicago, e era hora de se despedir das bikes. Chegava assim o fim de mais uma das muitas viagens que fizemos até aqui, e começava o planejamento para as muitas próximas que virão. Hoje voltamos ao Brasil e ao cotidiano profissional atribulado. Tiramos as barbas, cortamos os cabelos, guardamos a jaqueta e a bota no armário e retornamos aos papéis que asseguram nosso ganha-pão. Mas voltamos, como sempre, de alguma maneira modificados, sempre pra melhor. E embora a jaqueta e a bota permaneçam guardados em algum canto do armário até a próxima viagem, o espírito de liberdade, aventura, amizade e desejo permanente de conhecer coisas novas e viver novas experiências permanece em nós o tempo todo, norteando nossas ações e inspirando a busca pelo melhor. Até que criemos a oportunidade para a próxima e comecemos tudo de novo. 

Eduardo Amaral, sentimos tua falta!

Em tempo: se você curtiu acompanhar a viagem por aqui e tiver tempo sobrando, pode ser que curta outras que já rolaram antes:

Rota 66 - http://7na66.blogspot.com
Austrália - http://raiduaustralia2010.blogspot.com
Norte da América do Sul, incluindo a Carretera de La Muerte: http://andes2012.blogspot.com
Atacama via Paso San Francisco (solo): http://soateoatacama.blogspot.com
Ushuaia via Carretera Austral e Ruta 40: http://soateofimdomundo.blogspot.com

Até a próxima!!!!!!!

















sexta-feira, 18 de outubro de 2013

DIA 6 - ST LOUIS - CHICAGO - 512 KM RODADOS

Antes tarde do que nunca! :-)

Ontem na chegada a Chicago rolou a maior dificuldade com a Internet no hotel (que continua rolando, diga-se de passagem, é impressionante o quão ruim o acesso à web é ruim na maioria dos hotéis americanos) e ficamos sem o update do dia. Mas vamos lá!!!!

Antes de mais nada leitores mais atentos devem estar se perguntando: "Chicago? Mas os caras não iam pra Davenport e só no dia 7 chegariam a Chicago depois de Massar por Milwaukee"? Pois é era o previsto, mas mudamos os planos (pra isso que existem planos... hehe). Fizemos uma pesquisa mais profunda na Internet sobre os atrativos de Davenport, e descobrimos que existem por lá alguns museus. Ir por Davenport deixaria um trecho bastante longo no último dia, que é quando pretendemos passar na fábrica e museu da Harley-Davidson, e portanto, tornaria a visita uma correria. E ainda, se mudássemos o trajeto indo de St Louis direto a Chicago, reencontraríamos um bom trecho da Rota 66, e seria bacana rodar novamente pelos caminhos que rodamos seis anos atrás, dessa vez em sentido contrário. Assim, a somatória de falta de apetite pros museus de Davenport + intenção de ter mais tempo para a visita à HD + Route 66 = ida direto a Chicago!

Rodamos um bocado neste sexto dia. Em quilometragem, o mesmo que em dias anteriores, mas como percorremos uma boa parte do trajeto pela 66, a viagem obviamente fica bem mais lenta. Também foi um dia de frio intenso e muito pouca chuva, apesar de ela ter sido anunciada pela previsão no dia anterior.

Primeiras 100 milhas na chatice das highways. Depois disso, estradas vicinais até chegar novamente à Mother Road. Chegamos à Chicago no final da tarde num trânsito infernal. Chicago é uma cidade muito grande, com um centro relativamente compacto e tomado por arranha-céus. É um importante centro financeiro e, como toda metrópole, possui trânsito muito intenso. Mas conseguimos chegar ao hotel onde ficamos hospedados em segurança e constatamos sua ótima localização.

No tradicional Jack'n'cooke do final do dia antes da janta começar foi dia de reflexões sobre a estrada e o que viagens como essa representam pra nós. Quem acompanhou blogs anteriores sabe que a proximidade do fim da viagem torna os ogros mais reflexivos... Ontem não foi diferente. Sempre afirmo que o motociclismo, pra quem gosta, é uma terapia muito mais interessante do que o consultório do terapeuta. A coisa rola mais ou menos assim: dois primeiros dias: barulho na cabeça decorrente da conexão ainda presente com os problemas do cotidiano; terceiro dia: descompressão; quarto dia em diante: silêncio na mente e espaço pra coisas novas. Há sempre uma certa mística envolvida em uma viagem como essa e muitas vezes uma fantasia associada a farra, mulheres e confusão. Nada poderia estar mais equivocado. Essas viagens são um exercício de autoconhecimento e descompressão, onde o vínculo de amizade e cumplicidade entre nós, amigos da estrada e principalmente da vida; trabalha a favor de uma evolução individual a partir do coletivo. É fácil entender porque a maioria das pessoas talvez tenha dificuldade de entender. É muito raro conseguir estabelecer um grupo de pessoas/amigos que consiga fazer tantas viagens juntos sem jamais ter tido um stress significativo ou sem que o grupo acabe rachando em um ou mais momentos. Isso é raro!!!! E é isso que faz por exemplo que anteontem estivéssemos no meio de um bar em Nashville com música rolando no palco e conseguíssemos estar completamente alheios a tudo que estava acontecendo numa espécie de catarse entre nós mesmos celebrando a amizade, a vida e as coisas boas que o Universo de alguma maneira nos proporciona quando corremos atrás. Temos ainda a sorte de termos no Brasil mulheres e namoradas excepcionais, que são capazes de um puta exercício de desprendimento e muita sabedoria pra entender e compreender que o que nos trás a "aventuras" como essa não tem nada a vez com sacanagem e um passe livre pra fazer o que quisermos, mas sim, com os fatores que comentei anteriormente. Sempre reafirmo que é impossível voltar de uma viagem como essa igual. Mais uma vez, a prática confirma a teoria! :-)

Agora chega de filosofia de boteco! :-)

Ontem a noite nos refestelamos em uma steak house chamada Capital Grille. É uma na mesma linha de outras que existem em todo o território americano (estilo Morton's, Ruth's Chris e por aí afora) onde a carne é soberba, o serviço impecável, e a conta astronômica! :-) Mas achamos que merecíamos o privilégio de trucidar um Porterhouse (um bifinho de quase um quilo) com Guiness gelada e um Laphroaig pra rebater no final como forma de celebrar a chegada em Chicago.

Na volta pro hotel, passamos pelo Legends, o clube de blues do Buddy Guy onde abrimos a viagem pela Rota 66 seis anos atrás (estamos hospedados a uma quadra do lugar). Que decepção..... Nossa memória do Legends era de um bar tosco e meio escuro, com um puta palco cheio de negão tocando com a alma, baldes de asa de frango desumanamente apimentadas, pints de cerveja servidos no balcão e audiência interessada em música de verdade. Encontramos um local refinado, totalmente reformado, com mesas na frente do palco e uma bandinha de uns engomadinhos tocando um blues que mais parecia uma espécie de jazz de 12 compassos sem energia, sem vibração e sonolento (acreditem, o sono não era decorrente de todo o sangue do cérebro estar concentrado no estômago pra dar conta do Porterhouse.... hehe). O Legends ficou bem legal pra rapaziadinha que quer ir num lugarzinho bacana, com bom atendimento pra posar de "curtidor de blues". Mas pra quem viu o "palco" do Reds em Clarksdale infestado de gente emprestando a alma para as guitarras, baterias, contrabaixos e microfones, assistir a bandinha empacotada e engomada no Legends ficou simplesmente intragável....  É como eu disse: não há como voltar de uma viagem como essa sem algumas transformações... ;-)

#partiuMilwaukee


PARADA PELO CAMINHO AINDA À BEIRA DO MISSISSIPI 


MOMENTO BROCKEBACK MOUNTAIN À BEIRA  DO RIO (cinco marmanjo mal encarados fazendo posesinha na beira do riozinho.... kkkkk)


MOMENTO PORRADA NO MONTANHA PRA RECUPERAR A MASCULINIDADE... :-) 


REEDIÇÃO DE FOTO QUE TIRAMOS NO MESMO LUGAR, SEIS ANOS ATRÁS, NA ROTA 66. ESSE FOI O RESTAURANTE ONDE FIZEMOS O PRIMEIRO ALMOÇO DA ROTA NAQUELA OPORTUNIDADE. 


GET YOUR KICKS ON THE ROUTE 66 



MOMENTO FIGHT PRA REAFIRMAR A MASCULINIDADE... KKKKKKKK 


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

DIA 5 - NASHVILLE - ST LOUIS - 528 KM RODADOS

Viagem entrando na reta final. Ontem a noite em Nashville, Montanha sentiu-se em casa com música Country por todos os lados. A Broadway não estava lá tão animada a maioria dos bares vazios, mas os poucos que estavam com algum movimento tinham música ao vivo de excelente qualidade.

Hoje saímos um pouco mais tarde que ontem já que embora tivéssemos quase a mesma distância que ontem pra rodar, não tinha a parada no caminho. Saímos debaixo de chuva e frio. Daqui pra cima, o frio só aumenta, em Chicago provavelmente vai estar abaixo de 10 graus. Então o primeiro terço da viagem hoje foi difícil, highways, bastante chuva e, em consequência, viagem rendendo muito menos.

Começamos a viagem no estado do Tennessee, passamos pelo Kentucky, atravessamos Illinois (onde o tempo melhorou) e entramos no Missouri com sol aberto. St Louis é uma cidade grande e bnonita, pelo menos daquilo que conseguimos ver na chegada. E parte do trajeto até aqui foi margeando, mais uma vez, o rio Mississipi, com belas paisagens. Optamos pela rota mais longa em detrimento daquela que vinha direto pelas highways, e essa escolha sempre se mostra acertada. Rodar pelas modernas autopistas é bom pra quem tem pressa de chegar. Mas pra quem tá curtindo a viagem é um porre, porque é monótono e a paisagem não muda. Margeando o Mississipi atravessamos pontes de bela arquitetura, fazendas e cidades do interior (algumas prósperas, outras quase fantasmas, e embora tenhamos chegado um pouco depois e mais cansados, desfrutamos muito mais do trajeto.

E hoje, como esqueci a máquina fotográfica na moto, não tem foto... :-(

Amanhã, penúltima perna da viagem até Davenport.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

DIA 4 - MEMPHIS - NASHVILLE - 540 KM RODADOS

O post de hoje saiu mais tarde porque o festão de hoje era minha responsabilidade. Então, tive que providenciar comida pra todo mundo (a bebida já tinha sido comprada no melhor lugar do dia...).

Ontem a noite em Memphis rolou um bar hopping pra conseguir ver todas as bandas tocando na Beale Street. Noite light por causa do dia de hoje, que ia ter tiro mais longo e passagem na Jack Daniel's Destilary. Acordamos cedaço e as sete estávamos na estrada a caminho do de Lynchburg. Lembrando que já estamos em outro estado desde ontem, saímos do Mississipi e entramos no Tennessee. 

O ponto alto do dia foi a visita à destilaria. Vale muito a pena, seja para apreciadores do Jack ou não. Um tour de uma hora e quarenta e cinco percorrendo a destilaria e entendendo o processo de produção do Uísque do Tennessee. Aprendemos q o diferencial do Uisque do Tennessee (leia-se jack) para o Bourbon é que o Jack é destilado em carvão, num processo de gotejamento do bourbon produzido a partir de milho, cevada e malte através de mais de 3 m de carvão (sim, carvão litearalmente), por onde o bourbon desce até ser filtrado. Na sequencia, o jack fica armazenado em barris de carvalho americano novos e, importante, fabricados pela própria destilaria. O raciocínio deles é simples: nós não armazenamos nosso uísque em barris; nós os confiamos a eles. Isso se explica pelo fato de que toda a cor e boa parte do sabor vem da passagem pela madeira. 

A cidade de Lynchburg vive em função da fábrica. E por lá também aprendemos a diferença entre o Jack original, o Gentleman Jack (filtrado no carvão duas vezes) e o Single Barrel (Jack escolhido pelo mestre da destilaria de acordo com características excepcionais do uísque). 

Finalmente, mas não menos importante, finalmente alguém comprou o primeiro terreno!!!!!!! Rodrigão achou que a moto estava com o descanso abaixado e soltou a Electra, que foi DIRETO ao chão. Rodrigão está muito bem e sem nenhum dano, a não ser à própria moral.... ;-)










RODRIGÃO COMPRANDO TERRENO...


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

DIA 3 – CLARKSDALE – MEMPHIS – 120 KM RODADOS

Hoje tivemos o dia mais tranquilo em termos de quilometragem, apenas 120 KM entre Clarksdale e Memphis. Ontem, a noite em Clarksdale foi no melhor espírito do Blues. O plano original, de voltar no Ground Zero para assistir a algum show foi frustrado porque a bagaça não abre aos domingos à noite. Então partimos pro plano “B”: seguimos a indicação do Po’ Monkey e fomos parar do Reds. A aventura começou pra conseguir um táxi. Perguntei na recepção se era difícil e a moça respondeu entusiasmada que não, era bem fácil, porque só tinha um. Achei que tinha entendido errado e pedi pra ela repetir, mas era isso mesmo: era fácil porque só tinha um táxi na cidade, então era só chamar e o cara vinha... hehe... depois de esperar uns 40 minutos chegou o maluco numa SUV gigante e nos levou no tal Reds. Devo admitir que a primeira vista o negócio meio que assustava... Um negócio meio parecido com um galpão caindo aos pedaços, um povo meio estranho na frente do lugar e duas churrasqueiras gigantescas na porta assando salsicha e porco. Mas quando paramos e ouvimos a música que vinha lá de dentro....

Basicamente, o Reds é um clube tradicionalíssimo (não por acaso foi o lugar que o Po’ recomendou), que reúne gente que toca por hobby. As pessoas vão se sucedendo no palco, se misturando, sai um, entra outro e a coisa só vai melhorando. Palco é meio que modo de dizer também, porque não existe uma divisão entre onde ficam os músicos e o povo ao redor. É um lugar pequeno, com algumas cadeiras para o povo sentar, um bar onde só se vende cerveja e nada mais e a música rolando. Muito, muito, mas muito bacana!!!!!!!! A energia dos músicos no palco e do povo curtindo é alucinante. Sem frescura, sem luxo, sem sofisticação: só Blues em estado bruto!!!


Hoje, antes de pegar a estrada passamos na obrigatória encruzilhada da 61 com a 49 pra fazer a também obrigatória fotografia no marco do local onde, reza a lenda, o Eric Johnson fez o acordo com o Capiroto e vendeu a alma em troca de se tornar um mestre do Blues. Na sequencia rodamos os 120 KM até Memphis e fomos direto a Graceland, a mansão do Elvis e principal atração da região. O negócio é um parque temático de Elvis Presley. Visita à mansão propriamente dita, à sala de troféus com os milhares de discos de ouro e platina, sala de jogos, bar, sala de televisão (o cara assistia três televisões ao mesmo tempo), à coleção de roupas e de carros, enfim, coisa pra fã passar o dia inteiro e faltar tempo. A gente fez o roteiro básico e fomos comer porque a fome era bruta. Memphis é conhecida pelas costelas de porco defumadas assadas até quase soltar do osso. Achamos um lugar tradicional e pedimos um prato que dava pra alimentar entre 8 e 10 pessoas... achamos que seria suficiente... Mas o Montanha achou melhor pedir uma saladinha extra e uns onion rings de entrada... Ainda bem, senão ia faltar comida!!!!! J

Agora preparação pra festa do Barbalhão, que esperamos, será melhor que a do Rodrigão que não conseguiu comprar destilado num domingão em Clarksdale. Mas hoje vamos de leve que amanhã são mais de 500 KM de estrada e temos que estar bem dispostos pra visitar nosso amigo Jack em sua própria casa.











domingo, 13 de outubro de 2013

DIA 2 - VICKSBURG - CLARKSDALE - 250 KM RODADOS

What a day!!!!! Chegamos hoje ao local de nascimento do Blues, Clarksdale. Dia começou cedo, até porque, Vicksburg efetivamente não se mostrou uma cidade de muitos atrativos. Escrevi no post de ontem que Montanha tinha achado a cidade meio com cara de ghost city. Pois e não é que ele acertou? Hoje pela manhã na recepção do hotel folhetos ofertavam um Ghost Tour na bela Clarksdale. Pra completar, tentamos comprar uma pizza num Papa John’s ao lado do hotel quando faltavam ainda 15 pra nove e a infeliz do balcão disse que já tava fechado (na porta uma placa gigante falava que fechava as 10...). O jeito foi comer hot pocket feito no micro-ondas (isso, depois das experiências feitas pelo Rodrigão no mesmo micro-ondas tentando transformar uva natural em passa!!!!!!).


Retomamos a Route 61 pelo estado do Mississipi. Como curiosidade, a viagem começou na Louisiania e ainda ontem chegamos ao Mississipi. Outro fato que chama a atenção pelo cenário e que já se havia feito perceber no percurso pela Rota 66, onde rodamos muito pelo interior da América, é a quantidade de igrejas. Dá a impressão de ter mais igreja do que MacDonalds!!!!



Seguimos rumo ao Norte com tempo bom, após o dilúvio de ontem. Neste trecho, a Route 61 também é conhecida por Great River Road, porque ela efetivamente acompanha o traçado do Mississipi.  Cerca de 20 milhas antes de Clarksdale fica uma cidade chamada Marigold. É nos arredores dessa cidade que fica um marco da Rota do Blues e que estávamos ávidos por visitar. Estou falando do Po’ Monkey’s, uma “joint”, como eles chamam aqui (em tradução livre daria pra chamar de espelunca) que é famoso por sua contribuição para o desenvolvimento do Blues. Segundo a história, foi em Clarksdale que o Blues nasceu. E em grande parte, isso se deve à história do desenvolvimento das fazendas de algodão somadas à forte segregação racial na região do Delta do Mississipi. Naquela época, lugares como o Po’ Monkey’s proliferavam pela região. Eram lugares muitíssimo simples, onde os negros trabalhadores das fazendas se reuniam em busca de diversão barata. Foram nessas lavouras que surgiram os primeiros acordes do Blues, e foram nessas “joints” que a música se espalhou. Infelizmente, com o tempo, quase todos esses lugares desapareceram do mapa, com exceção do Po’ Monkey’s que está no mesmo lugar há 58 anos. Chegar lá não é difícil, mas é preciso saber onde se está indo, porque não existem indicações. Seguindo pela 61 ao Norte, após a entrada de Marigold há uma placa indicando uma fazenda de algodão chamada Pemble Farms. Nesse sinal entra-se a esquerda saindo da 61, e logo a seguir à esquerda novamente por uma estrada de terra e pedra. Uma milha depois o Po’ Monkey’s estará à esquerda.
Chegamos ao local e ficamos um tanto desapontados, porque estava fechado sem sinal de viva alma. Mas ok, paramos, descemos das motos, tiramos fotos, e já íamos voltar pra estrada quando, exatamente no momento em que fazíamos a volta pra encontrar a 61, eis que chega em sua pick-up laranja (sim, laranja e em dois tons) o senhor Willie Seabarry, ou o Po Monkey em pessoa. Nesse momento entendemos porque o cara é uma lenda. Chegou buzinando, maior esporro, mandou a gente estacionar as motos e entrar. Abriu o lugar pra gente, mostrou onde ficava a cerveja gelada, sentou e começou a contar história. O lugar é surreal (fazia tempo que não usava essa expressão que era frequente em blogs de viagens anteriores). É como voltar no tempo, mais de meio século de história num lugar apertado, abafado, escuro e totalmente tosco, mas de onde não dá vontade de sair. Zilhões de cacarecos espalhados por todo canto, macacos de tudo quanto é tipo pendurados no teto, velharias, quinquilharias e a fala orgulhosa do Po Monkey afirmando que naquele lugar nunca, jamais, em momento algum, tocou country, rap ou qualquer outro tipo de música que não Blues. De tempos em tempos ele se levantava, ia pra “cozinha” (cozinha porque tinha um micro-ondas e uma geladeira com uns 150 anos....) e voltava com uma sacanagem diferente. Na primeira, trouxe uma caixa do tamanho de uma caixa de sapatos com uma roleta em cima e pediu pro Rodrigão girar a roleta. Na verdade onde ia cair não interessava porque quando o trem parou de girar pula da caixa uma Caceta em riste e ele cai na risada, fazendo questão de mostrar que ele construiu a engenhoca a partir de uma ratoeira. Daqui a pouco ele volta de avental dizendo que vai fazer alguma coisa pra gente comer, chega perto do Rodrigão (enquanto escrevo to aqui pensando que acho que pintou um clima entre o Po Monkey e o Rodrigão....), levanta o avental e outra kcta pula pra delírio do figura que cai na risada outra vez. Saímos de lá com a certeza de ter visto algo que não se encontra todo dia e em qualquer lugar (é óbvio que aqui não me refiro às kctas de sacanagem do Po Monkey, mas ao próprio, ao lugar e à sua energia e história).

PO' MONKEY'S









Aqui, Montanha pregando no teto do bar uma nota de dois reais assinada por nós. Tem dinheiro de tudo quanto é lugar no teto to bar do Po Monkey, que em pessoa observa preocupado o desempenho do Montanha com o grampeador.






A prova do crime. Agora, temos uma camiseta nossa na parede do Bagdad Café na Rota 66 (Rodrigo esteve lá o ano passado e testemunhou que a camisa continua lá, onde a pregamos anos atrás) e uma nota de real assinada no teto do Po' Monkey's. :-)


Com o próprio, antes de voltar pra estrada.

Seguimos para Clarksdale e chegamos a outro lugar que queríamos conhecer. Trata-se do Shack Up Inn, um hotel que é uma antiga fazenda de algodão cujo armazém principal foi transformado em um outro local surreal, com um palco enorme, bar, bancos de igreja pra quem assiste o show e recepção de hotel, tudo junto. E os quartos são, na verdade, cabanas absolutamente toscas por fora, algumas fabricadas com chapas de metal, outras com madeira velha, tudo no melhor espírito Bluesy. Infelizmente, tava rolando um festival no lugar e estava tudo lotado. Então vazamos pra Clarksdale pra almoçar e matamos um hambúrguer, provavelmente a refeição mais comum até aqui, já que pelo caminho nos dias anteriores experimentamos peixes exóticos dos pântanos da região, ostras defumadas, sopa de tartaruga, patolas de caranguejo e até rabo de crocodilo. Visitamos o Delta Blues Museum, que conta em fotos e memorabilia a história do Blues e passamos pelo Ground Zero Blues Club, onde possivelmente voltaremos a noite. 



Tentamos a sorte em outro hotel histórico, o Riverside Hotel, uma casa de início do século passado que até 1943 foi um hospital de negros e foi onde morreu Countie Basie, levada pra lá após o acidente de carro que a matou. Desde então se transformou em um hotel cheio de história onde muita gente famosa do Blues já se hospedou, mas infelizmente, a proprietária do hotel não estava e o bilhete na porta dizendo que ela voltava logo não nos animou a continuar esperando. A bem da verdade, o lugar parecia meio mal assombrado e provavelmente não vê uma forma desde a época de Countie Basie, então, talvez, o Confort Inn talvez tenha mesmo sido uma melhor escolha...



Amanhã tiraremos a foto clássica do cruzamento da Rota 61 com a 49, onde o Robert Johnson supostamente vendeu a alma ao diabo e seguiremos a Memphis. Só esperamos que o visual Penélope charmosa do Cesinha melhore a partir de amanhã, senão vai ter que voltar a usar o colar de patinho. Do jeito que vai, de echarpe no pescoço, já tá pegando mal pra reputação do grupo...  :-)